quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Exército de censores esconde falência da economia chinesa

Até na China se perguntam se o país beira o colapso
Até na China se perguntam se o país beira o colapso
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Um artigo do respeitado economista Zhao Jian foi apagado pelos censores algumas horas após ser publicado.

O conteúdo parecia anódino, mas, para um funcionário do Partido Comunista estava cheio de ideias perigosas.

Zhao comentou que o governo não estimulava a economia em crise e a incerteza “envolve os corações das pessoas”, segundo “O Estado de S.Paulo”.

Um exército de censores da internet expurga rotineiramente as postagens que não afinam com o ditador Xi Jinping e abafa os debates sobre a economia.

Acadêmicos e especialistas são silenciados, dados que deveriam estar disponíveis desaparecem do acesso público, a já limitada liberdade de opinião é ainda mais cerceada e os investidores não sabem o que fazer.

Nesse contexto, a censura do artigo de Zhao provou que ele tinha razão, comentou “The Economist”.

Os dados oficiais na China sempre foram falseados. Economistas há muito reclamam que o Escritório Nacional de Estatística (NBS) usa metodologias enigmáticas.

Os dados mais recentes sobre a balança de capitais da China foram tão contraditórios que o Tesouro dos EUA pediu a Pequim esclarecer os números. E a resposta socialista só confundiu ainda mais as coisas.

Obras paradas sinalizam crise das inchadas construtoras
Obras paradas sinalizam crise das inchadas construtoras
As bolsas de valores da China não publicam mais os vitais dados diários de fluxos de capital, que agora só aparecem trimestralmente.

E ainda assim não batem com a experiência de empresas e investidores locais.

Os números do PIB são risíveis, diz Logan Wright, do Rhodium Group, empresa de consultoria, “pararam de ter qualquer semelhança com a realidade econômica”, disse.

A constante distorção oficial obscurece as notícias que envergonham o governo.

Um professor da Universidade de Pequim apontou que 16 milhões de jovens sem emprego foram suprimidos nas estatísticas de desemprego porque se fossem computados a taxa de subemprego dos jovens superaria o 46%, número intolerável para Xi.

O governo diz que ninguém mais vive na pobreza absoluta na China, mas ninguém ousa dizer o que pensa, e que é bem diverso do dogma oficial.

De 20 a 30 milhões de lares são vítimas da crise imobiliária porque pagaram por apartamentos que nunca foram concluídos, e poucos economistas tem coragem de investigar a sorte desses milhões de enganados.

Jornalistas e comentaristas que abordaram tópicos sensíveis foram presos. Até hoje se oculta o verdadeiro número de mortes por Covid-19 e o exército de repressores maoístas tranca a discussão.

Os especialistas pró-governo mais ardorosos são silenciados se desentoam da instrução oficial.

A mídia só pode difundir o que o ditador quer. Charge do  The New York Times
A mídia só pode difundir o que o ditador quer. Charge do  The New York Times
Hu Xijin, um jornalista nacionalista, elogiou as diretrizes do alto escalão do Partido Comunista, mas suas interpretações irritaram um hierarca e foram excluídas das redes sociais.

Os empresários estrangeiros reclamam que as autoridades socialistas só fornecem dados vagos e estereotipados.

Segundo Huang Yanzhong, da Seton Hall University, dos EUA, o contato com estrangeiros pode representar um risco para a população local.

Os jornalistas estrangeiros que retornaram à China após a pandemia passaram a ser vigiados de perto.

Em Hefei, as grandes empresas foram instruídas a não falar com a imprensa. Alguns diplomatas receberam a mesma instrução.

Empresas como a Wind pararam de fornecer informações aos usuários fora da China e a Qichacha, empresa de inteligência corporativa que publica dados de falências, está inacessível no exterior.

Xangai, o centro financeiro da China, proibiu a transferência para o exterior de qualquer informação sobre preços ou tendências de mercado. Dados oficiais da produção industrial começaram a rarear ou desaparecer, diz Wright.

O acesso às universidades chinesas se tornou mais limitado, e até há universidades fechadas desde o Covid.

Censura espiona todas as comunicações privadas
Censura espiona todas as comunicações privadas
Os estrangeiros precisam de permissão prévia para pisar nesses campi após a pandemia.

Xi impôs que as universidades passassem a fazer referência explícita à sua lealdade ao Partido Comunista, como parte da “educação socialista com características chinesas”.

A ausência de liberdade acadêmica se aproxima à Revolução Cultural, o período de fanatismo maoísta que eliminou os intelectuais, diz Sun Peidong da Universidade Cornell.

Professores talentosos tentam passar suas ideias críticas sob um invólucro politicamente correto, mas só conseguem inserir alguns grãos de areia crítica em longos e vácuos relatórios de gosto oficial. Devem omitir qualquer análise das políticas do governo central.

Outro resultado foi criar um sistema de espionagem dos professores, da mídia e dos think-tanks.

Jornalistas, pesquisadores e economistas devem escrever relatórios de “referência interna”, ou neican em chinês, do gosto do governo.

Acadêmicos e jornalistas vivem uma vida dupla, produzindo por baixo artigos explosivos sobre empresas poluidoras ou autoridades corruptas, e por cima elaboram relatórios para as autoridades socialistas cheios de bobagens bajuladoras.

Sob Xi, os think-tanks independentes fecharam e os submissos se multiplicaram.

Ninguém  pode falar a realidade
Ninguém  pode falar a realidade
“Think-tanks com características chinesas” criados pelo sistema triplicaram em número. Os relatórios “neican” lisonjeiam as autoridades apresentando a realidade com um viés otimista.

Os serviços de segurança comunista executam operações massivas de vigilância, rastreando pessoas, bens e opiniões expressas por cidadãos comuns.

Assim, ninguém fora dos antros de poder entende o que Xi quer e manda fazer.

De modo inevitável, a economia se deteriora, a burocracia é cada vez mais ideológica e comunista e a escassez de informações é asfixiante.

O gigante chinês afunda num abismo de escuridão planejada que conduz às piores catástrofes.

Mas, desta vez poderá arrastar a economia mundial.



quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Sacerdote confessor da Fé na China oprimida

O Pe. Huang Guirong aguardou 45 anos para ser ordenado e nunca aceitou chantagens nem acordo com os comunistas
O Pe. Huang Guirong aguardou 45 anos para ser ordenado
e nunca aceitou chantagens nem acordo com os comunistas
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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diversos blogs






O Pe. Huang Guirong (1933-2024) faleceu no condado de Huaping, Lijiang. Em 1949, os comunistas clausuraram seu seminário, mas sua vocação foi mais forte do que a provação, registra “Infocatólica”.

Em 1955 foi forçado a trabalhar como operário em uma oficina mecânica. e em 1966 passou mais de dez anos na encarcerado pela Revolução Cultural.

Quando foi libertado em 1978, teve que trabalhar de carpinteiro até que o bispo Matteo Chen Muchen o ordenou em 1995, na Catedral de Zhaotong..

O administrador apostólico He Dezong designou-o sacerdote para a vila de Lefeng. Em fevereiro de 2012, o Pe. Huang tornou-se administrador apostólico da diocese.

Organismos burocráticos controlados pelo Partido Comunista Chinês (PCCh) ordenaram um bispo sem o mandato da Santa Sé que ocupou o trono episcopal.

Até que por fim, horror dos horrores, o Papa Francisco fez o acordo provisório entre Roma e Pequim e admitiu como bispo a um colaborador do regime comunista juntamente com outros seis prelados ordenados ilicitamente como ele.

Mas, o antigo administrador apostólico assim posto de lado permaneceu uma figura exemplar para o povo fiel.

“O padre Huang era um sacerdote muito respeitado na Igreja de Yunnan – afirma uma nota biográfica enviada à AsiaNews junto com a notícia de sua morte.

Na sociedade materialista chinesa manter tal estado de pureza e de incontaminação faz de um homem como o Pe Huang um modelo exemplar enviado por Deus para mostrar o caminho aos nossos tempos.



quarta-feira, 2 de outubro de 2024

China bate recordes de intoxicação pelo quarto ano consecutivo

Termoelétricas queimam mais carvão que todas suas equivalentes no resto do mundo
Termoelétricas queimam mais carvão
que todas suas equivalentes no resto do mundo
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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As emissões de dióxido de carbono da China (CO2) completaram mais um ano em alta e o país pode ter alcançado seu pico de emissão em 2023, sete anos antes do ano projetado, mostrou relatório do geógrafo finlandês Lauri Myllyvirta de repercussão nacional e internacional, segundo já noticiou a “Folha de S.Paulo”. 

Myllyvirta é fundador do Centro de Investigação em Energia e Ar Limpo de Helsinque e especialista em China do think tank nova-iorquino Asia Policy.

Há quatro anos o ditador Xi Jinping trombeteou na Assembleia Geral da ONU que: “Nosso objetivo é alcançar a neutralidade de carbono antes de 2060”.

Foi mais um gigantesco blefe engolido entusiasticamente pela diplomacia e pela mídia ocidental.

O geógrafo só constatou em 2021 que “Pequim havia atingido o pico em 2012”, pela manutenção das políticas de aumento de usinas de carvão.

“Precisamos deixar de aprovar novas centrais a carvão, deixar de construí-las”, disse ele.

Geógrafo Lauri Myllyvirta a China deve parar de aprovar termoelétricas
Geógrafo Lauri Myllyvirta a China deve parar de aprovar termoelétricas
O ministério chinês para redução de emissões neste ano e no próximo reafirma, contra os fatos, que a China está fazendo tudo para acabar com uma situação que, do ponto de vista ecologista, e simplesmente humanitário, é desastroso.

O sinal dado foi aplaudido até por Myllyvirta como “bastante positivo”, embora a China nunca cumpra suas belas agendas.

Essas são mais concebidas em função da propaganda e da desmoralização das economias ocidentais.

Alguma diminuição da queima de carvão pode ser registrada por caausa da decadência da produção industrial e da menor atividade na construção civil, dos últimos anos.

Mas o geólogo encerra o relatório com “um grande ponto de interrogação”, sobre o que pode acontecer porque há “visões amplamente divergentes” sobre o que a China fará visto seu longo histórico de falsos testemunhos.