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Em cidades chinesas outrora ativas só vão ficando idosos |
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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Centros motores da ascensão industrial da China estão superpovoados de idosos e padecem espantosa escassez de jovens, após décadas de cruel limitação forçada da natalidade.
O jornal “Wall Street Journal” fez uma longa reportagem da crise populacional chinesa. E deu o exemplo de Fushun uma cidade que vibrava de energia e agora está em agonia.
A maioria de suas minas de carvão e refinarias fecharam, metade de seus jovens foi embora e os cofres de pensão estão no vermelho não pudendo manter cerca de um terço de sua população idosa.
A cidade ainda tem 1,7 milhões de habitantes, mas apenas nasceram 5.541 bebês no ano passado. Em comparação, o condado de Wayne, em Michigan, EUA, que tem uma população similar, registrou mais de 20.000 nascimentos.
Em Fushun nos pontos de ônibus se exibem anúncios de cemitérios. Táxis anunciam implantes dentários US$ 200 por dente ou US$ 1.680 por “meia boca”.
Nos ônibus, os idosos cedem os assentos aos moços porque são a última esperança. O transporte público transita por avenidas de prédios de apartamentos vazios que antes fervilhavam com famílias. Sinal negro: as antigas escolas primárias viram asilos.
Fushun hoje anuncia a China de 2035, segundo a ONU. Na China a criminosa “política do filho único” comunista há vários anos fez diminuir vertiginosamente os nascimentos e causou este drama social de dimensões nacionais.
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Previsão de centenas de milhões de idosos entrando na aposentadoria que o governo não pode pagar |
Fushun foi, além do mais, o modelo de cidade como a queria o Partido Comunista Chinês (IPCCh) e os investimentos aumentavam enquanto a população limitava nascimentos. Agora, ela simboliza a decadência econômica que corroi todo o país.
Na China, a nível nacional, os nascimentos em 2024 caíram abaixo de 8 milhões, menos da metade de 2015, o último ano da política maoísta do filho único. O país deixou de ser o mais populoso da Terra.
Para reverter as tendencias populacionais negativas, o regime marxista agora tenta promover uma “cultura favorável ao nascimento”.
Fushun, cuja taxa de fertilidade está há muito tempo abaixo de 1, perdeu mais de um quinto de sua população desde 2000.
Mais da metade de seus moradores terá 60 anos ou mais em uma década, de acordo com cálculos de Yi Fuxian, pesquisador da Universidade de Wisconsin-Madison, com base em dados do censo e na taxa de fertilidade atual de Fushun de 0,7.
Quando o crescimento da China decolou, Fushun se tornou conhecida como a “fornecedora de combustível” do país, chegando a ser responsável por 50% da produção de petróleo da China e um décimo de seu carvão.
Por um tempo, Fushun ficou entre as 10 principais cidades chinesas com indústria pesada, atraindo trabalhadores de todo o país.
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Em Fushun, outrora dinâmica, o crescente abandono é a nota dominante |
Muitos dos líderes da China, começando com Mao Tsé-tung, visitaram sua mina West Open Pit, a maior do tipo na Ásia, estendendo-se por mais de 4 milhas de ponta a ponta e um quarto de milha de profundidade.
A política do filho único imposta policialmente ajudou a turbinar o crescimento econômico da China, mas agora ela está pagando o preço.
Hoje há menos jovens para cuidar dos idosos e menos mulheres para dar à luz.
A província de Liaoning, onde Fushun está localizada, adotou a política do filho único com zelo particular, ostentando um “milagre duplo” de controle populacional efetivo e maior crescimento econômico.
Autoridades viam como um perigo o nascimento de 22 milhões de crianças entre 1980 e 2010 para pôr em vigor essa política anti-familiar.
O milagre duplo se foi tornando um empecilho duplo por volta de 2000, quando começaram as demissões e fechamentos de minas.
Mais empregos foram cortados quando as refinarias estatais de petróleo perdiam dinheiro após anos de expansão descontrolada.
Os trabalhadores jovens iam embora, Fushun ficava cada vez mais grisalha e pobre. Até que o toque de finados foi dado pelo fechamento da mina West Open em 2019.
Fushun se tornou um símbolo do norte deprimido da China. Sua economia encolheu em cerca de um quarto na última década. Os bairros ao redor das minas fechadas estão se desintegrando e esvaziando.
A cidade desde 2015 luta contra um déficit previdenciário de cerca de US$ 1,5 bilhão, de acordo com a Agência oficial de Notícias Xinhua.
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Jovens fogem e só ficam idosos |
Em Pequim os líderes ditatoriais falam que uma economia de “cabelos prateados” não é tão ruim enquanto as necessidades de assistência médica aumentam.
No Parque Laodong grupos de “avós dançarinas” tocavam música folclórica, outros idosos jogavam foot badminton, mulheres mais velhas praticavam bambolê, e outras faziam tai chi.
Muitos desses idosos se aposentaram de empresas estatais e ainda recebem pensões para uma vida relativamente confortável, mas não é assim para os moradores rurais, onde os mais velhos continuam trabalhando na terra até morrerem.
Xi Jinping pretendeu solucionar o problema com grandes projetos de infraestrutura que não tem nada a ver com as necessidades do mercado, para inventar trabalho às pessoas.
Entre a cidade e Shenyang, capital provincial de Liaoning, por exemplo foi construída uma cidade inteiramente nova, Shenfu para atrair empresas de tecnologia e outros negócios.
O custo foi multimilionário, mas Shenfu é uma cidade fantasma, com muitos prédios inacabados, outros abandonados ou pouco povoados.
Os prédios de escritórios estão pouco iluminados, os prédios de dois andares nas zonas “Posto de Saúde” e “Área de Contenção” parecem zonas proibidas durante a quarentena da Covid-19.
Numa outra área residencial, o único sinal de vida era dado por algumas galinhas bicando o chão em busca de comida.
É impossível atrair investimentos ou pessoas, disse Yichun Xie, professor de geografia e geologia na Eastern Michigan University em Ypsilanti, Michigan. “Parece uma batalha perdida”, disse ele.
O governo tenta impulsionar os nascimentos em Fushun, mas esses caem acentuadamente a cada ano, e as autoridades projetam fantasias.
Li Yong , 49, professor e fotógrafo, tentou montar um vídeo animador capturando faíscas de vida ou fumaça que sobe de um antigo aterro de resíduos.
Ele adorava brincar no Ethylene Park onde as fábricas estatais forneciam desde escolas a cerveja acessível, pagavam uma estação de TV a cabo, um jornal, uma equipe de basquete e apresentações de balé russo ou filmes no clube da fábrica.
Hoje o Ethylene Park está coberto de mato.