Milhares de carcaças podres no rio que fornece água potável a Shangai. |
O orwelliano Ministério da Verdade não é uma invenção novelesca. Ele existiu, e existe ainda!
Muitos o surpreendem quase todo dia com a mão na massa, agindo em certa grande mídia tida como respeitável e em alguns governos – aliás, não poucos– empossados legal ou ilegalmente.
Porém, qualquer ministério da falcatrua informativa e ideológica dificilmente bate os recordes de antologia verificados na China. Alguns, porém, defendem que talvez na Rússia de Putin o nível de falsidade seja superior.
Decida o leitor.
Em março de 2014, apareceram boiando no rio Huangpu, que passa por Xangai, milhares de carcaças de porcos em avançado estado de putrefação.
Uma granja estatal reconheceu que tinham morrido tantos porcos, que não dava para enterrá-los. Então eles foram sumariamente jogados no rio.
A causa detectada foi uma epidemia de circovirus suíno. Funcionários sanitários passaram vários dias para retirar os porcos que estavam na superfície.
Os moradores de Xangai ficaram estarrecidos, porque é desse rio que a prefeitura extrai a água potável da cidade.
Porém, a mídia do governo, segundo noticiou a CNN, defendeu que a água estava boa e que não apresentava sinais de poluição.
Um usuário da Weibo (o Twitter chinês) perguntou ironicamente: “Desde quando achar porcos apodrecidos boiando no maior rio não é um problema público de saúde?”
E outro acrescentou: “Se aparentemente a água não está contaminada, vinde, ó nossos grandes líderes, tomar o primeiro gole!”
A foto manipulada antes e depois. |
A agência de notícias oficial Xinhua, que funciona como a própria boca do Partido Comunista Chinês, remodelou com tecnologia digital a famosa foto do “homem do tanque”, segundo informou o “The Epoch Times”, jornal chinês com sede em Nova York.
Os fotógrafos flagraram um simples cidadão, Wang Weilin, que conseguiu deter uma coluna de tanques que avançava rumo à Praça Tiananmen, no centro de Pequim, no dia 4 de junho de 1989.
Pouco depois, os mesmos tanques esmagaram os protestos dos estudantes que pediam a liberalização do regime e o fim da ditadura comunista. Foi o massacre de Tiananmen que marcou uma data simbólica na repressão socialista.
A foto é rigorosamente proibida na China.
A agência oficial Xinhua produziu uma versão “politicamente correta” da foto. Nela o milhares de pessoas em ambos os lados da avenida foram acrescentadas, dando a impressão de que estão ovacionando a passagem dos tanques.
Em julho de 2011, dois trens-bala colidiram em Wenzhou, na província de Zhejiang. Meia dúzia de vagões descarrilou e quatro outros caíram do alto da ponte por onde circulavam.
O número definitivo dos mortos foi mais de 40, além de 200 feridos.
Nenhum dos grandes jornais do Estado sequer mencionou o grave acidente. As autoridades mandaram tratores e rolos compressores esmagar os vagões precipitados do alto, sem tirar os corpos de dentro.
Tudo ficou sepultado e encoberto, sem qualquer possibilidade de se saber quem ficou ali para sempre e as causas do desastre.
Governo fez desaparecer sem investigação os resto do trem-bala de Whenzhou. |
O governo disse que não houve sobreviventes, mas operários que esmagavam os restos narraram ter encontrado uma menina viva.
Interrogado no dia seguinte durante uma conferência de imprensa, o porta-voz do Ministério das Ferrovias, Wang Yongping, explicou: “Eles me disseram que enterraram os vagões para facilitar os trabalhos de resgate”.
Alguém lhe perguntou como explicava o caso da menina viva. O porta-voz do ateísmo não achou melhor resposta do que dizer: “Foi um milagre. Ainda que você não acredite em milagres, de qualquer forma eu acredito”.
A indignação popular foi grande diante do tratamento oficial do desastre, pois visou abafar o acontecido e sumir grosseiramente com as provas.
Um usuário da rede social Sina Weibo ironizou: “Este é um país onde uma tempestade de raios pode fazer colidir os trens, onde um carro pode fazer cair a ponte e onde beber leite (contaminado segundo instruções do Ministério da Saúde) produz pedras no rim… A China hoje parece esse trem viajando a toda velocidade numa tempestade de raios – e nós somos os passageiros dentro dele”.
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