Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Economistas, analistas e jornalistas de cadernos econômicos não têm mais liberdade de apresentar uma visão da economia chinesa diversa da espalhada pela ditadura socialista de Pequim, escreveu “La Nación” de Buenos Aires.
Tudo “está escrito”, não no Corão, mas no plano quinquenal aprovado pelo Partido Comunista Chinês. E, assim, vai tudo no melhor dos mundos. Quem não afinar sofrerá as consequências, ainda que os números contrários lhe furem os olhos.
Reguladores do mercado de valores, censores oficiais e outros funcionários advertiram os comentaristas que formularam pontos de vista sobre a economia chinesa que não se encaixam nas declarações do governo.
Lin Caiyi, economista chefe de Guotai Junan Securities Co., foi advertido de evitar comentários “exageradamente pessimistas” sobre a economia e a moeda chinesa.
Os analistas das Bolsas tentam evitar os informes críticos. A ofensiva do governo é generalizada. Os funcionários se recusam a fazer comentários ou se referir ao tema econômico, ainda quando ‘para inglês ver’ as autoridades comunistas insistem em que a livre circulação da informação contribui para a vitalidade da economia.
Pequim decidiu controlar de modo mais estrito as informações econômicas desde que seus problemas nas bolsas e com a cotação do yuan se multiplicaram em 2015.
Assim, em plena crise, a cúpula do Partido Comunista só fala em termos positivos de uma economia que mantém em suspense os mercados globais.
Scott Kennedy, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington, comentou: “Se o Partido e o governo só querem ouvir boas notícias, é melhor que não ouçam nada porque o valor das palavras seria inferior a zero”.
Advogados ativistas dos direitos humanos, personalidades das redes sociais, organizações estrangeiras sem fins lucrativos e membros do próprio Partido Comunista que criticaram as medidas oficiais também estão sendo visados.
Os sites de publicações econômicas estrangeiras estão sendo cada vez mais bloqueados pelas autoridades socialistas, inclusive The Wall Street Journal.
Uma mentalidade de assédio tomou conta dos líderes chineses, dizem os agentes econômicos. O presidente comunista Xi Jinping visitou as três grandes redes estatais de noticias: Xinhua, O Jornal do Povo e a Televisão Central da China (CCTV) para exortá-las a não se desviar da mensagem do Partido e a “contar bem as histórias da China”.
Os jornalistas chineses denunciam pressões para produzir matérias enviesadas segundo a vontade suprema. Os jornalistas nas bolsas devem fazer girar seus artigos em torno dos comunicados da Comissão Reguladora do Mercado de Valores da China.
“Na China, pode-se fazer hoje qualquer coisa, menos jornalismo”, disse um editor de alto nível de uma mídia estatal, cujo colega foi licenciado após redigir um artigo investigativo sobre as causas do colapso da bolsa em 2015.
Em fevereiro, o Banco Central deixou abruptamente de divulgar os números das compras de moeda estrangeira, dado chave para avaliar os fluxos de capital.
Em abril, Gao Shanwen, economista chefe da corretora Essence Securities Co., apresentou aos investidores em Hong Kong um sombrio panorama da economia chinesa.
Ele disse que “grande parte dos números oficiais não é confiável” e que a economia sofre “grandes problemas”.
Seus comentários repercutiram nas redes sociais e dois dias depois Gao teve de escrever no Twitter chinês WeChat que essas opiniões eram “inventadas”.
Logo depois assinou um relatório econômico onde as críticas brilhavam pela ausência. Nem Gao nem os representantes de sua empresa quiseram retornar as chamadas de jornalistas que queriam ouvir sua opinião sobre o sucedido.
Tudo aconteceu como num “campo de reeducação” ou na Revolução Cultural dos tempos de Mao Tsé-Tung.
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