Universitários chineses estão fartos das aulas obrigatórias de marxismo |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Quem quiser um titulo universitário na China deve ser aprovado na disciplina obrigatória de marxismo. O presidente Xi Jinping vem desenvolvendo uma campanha de intensificação do comunismo entre a juventude.
A doutrina marxista é a base ideológica do gigantesco e todo-poderoso Partido Comunista da China (PCC), o qual, entretanto, está se sentindo como um colosso que contempla seus pés de barro cada vez mais quebradiços.
Isso porque o socialismo teórico não faz senão perder fôlego na juventude!
Os estudantes não gostam de imposição e, menos ainda, da filosofia igualitária dessa doutrina. “É chata, não é útil e é uma perda de tempo”, disse categoricamente um estudante de Guangzhou que cursa o primeiro ano, citado em reportagem da UOL.
“Quase 99% dos estudantes pensam do mesmo modo. Não tem outra utilidade senão memorizar para o exame” – acrescentou. De fato, são muitos os estudantes chineses que ignoram esta disciplina, só a suportando para concluir a universidade.
O presidente Xi Jinping quer mais marxismo na juventude, mas essa acha-o 'chato' e os que aderem visam retornos na corrupção da administração pública. |
Os professores explicam a história chinesa na tediosa ótica da ideologia marxista, para preencher a sua obrigação.
“Para ser honesta, não acredito que seja uma disciplina útil. Simplesmente é obrigatória”, opinou uma jovem universitária de Pequim.
Ela até quer apreender algo, porque “quero ser parte do PCC, portanto tenho de estudar as leituras políticas essenciais”.
De fato, a falta de convicção ideológica sincera nas próprias fileiras do Partido Comunista é mais uma fonte de preocupação para a cúpula dirigente.
O número dos membros do partido do governo diminui, e os que ficam é porque farejam lucros com a corrupção da administração pública.
Uma estrangeira – a espanhola Irene Torca, estudante da Universidade de Finanças e Economia de Xangai – mostra mais fervor que seus colegas chineses: “É uma das disciplinas mais interessantes que fiz”, contou, assegurando que “às vezes aprendo mais sobre China nesta aula que lendo na imprensa”. O elogio não tem muito conteúdo, mas é algo.
A mão de ferro da ditadura paira sobre o ensino do marxismo e os estudantes têm medo de falar ou de se identificar.
Dos entrevistados, só um aluno chinês e dois professores de Xangai permitiram publicar seus nomes.
Culto de Marx e Engels na China só atrai velhos, jovens fogem. |
Segundo o jornal oficial “Global Times”, escasseiam as pessoas com conhecimentos essenciais para ensinar o marxismo, embora haja bastante dinheiro oficial para remunerá-las.
Em 2015, o governo lançou o I Congresso Mundial de Marxismo, com 400 acadêmicos de todo o mundo. Também criou o fundo acadêmico Ma Zang, de textos sobre marxismo, dotando-o com 152 milhões de yuans (cerca de R$ 83 milhões).
Pensadores marxistas chineses estão alertando para a marginalização desta teoria nas universidades do país, enquanto cresce o interesse pela religião.
Nas estatísticas, o Cristianismo tem mais adeptos que o Partido Comunista, e os alunos procuram escolas de pensamento liberais que questionam a interpretação socialista do mundo.
No começo do ano, o ministro da Educação chinês, Iuane Guiren, garantiu que os livros que promovem “valores ocidentais” ou “difamam” o PCC não seriam aceitos nas salas de aula universitárias.
Pouco antes, acrescentou a UOL, a agência oficial de imprensa “Xinhua” publicou um decreto do PCC que cobrava das universidades “fortalecer a convicção nos ideais adequados”.
Quando uma ideologia não consegue persuadir ou seduzir, ela está morta nas mentes. E não adianta querer impô-la pela força.
Este é o declínio que depaupera o comunismo chinês e acena para um futuro esperançoso dessa grande nação asiática.
Nenhum comentário:
Postar um comentário