Comprar ou não comprar? Comer ou não comer? O sistema socialista do 'crédito social' dirá se você pode e o que é que pode. ç Crédito: Kevin Hong |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A rama financeira de Alibaba, o maior conglomerado de comércio eletrônico do planeta aliás chinês, já passou a incluir em seu sistema o 'Zhima Credit'.
Esse apresenta no smartphone um inexplicado número de três cifras, entre 350 e 950.
O jornalista de “La Nación” de Buenos Aires constatou que seu número era 654, uma qualificação considerada 'excelente'.
Muito poucos sabem o que significa. Trata-se da entrada no sistema de pontuação social aplicado por Alibaba, para julgar seus clientes.
Oficialmente é uma nota à conduta dos usuários e um indicador da confiança que merecem.
O algoritmo que fixa a qualificação é extremamente opaco, e considera o que compram, a quem, multas e conduta face aos créditos bancários.
A bicicleta é tudo para muitos milhões de chineses. O 'crédito social' dirá quem pode usá-las, quando e como. Rua de Suzhou. |
Uma das principais locadoras de bicicletas de China, Mobike, vai usar a pontuação para penalizar os usuários de baixa nota: terão que pagar o dobro.
E os qualificados como 'deficiente' terão que pagar até cem vezes mais.
O preço fica inacessível e não terão bicicleta.
Deixar a bicicleta em local improprio ou danifica-la, violar regras do trânsito, implicará queda na qualificação.
Mas isso não é um sistema empresarial: se trata das primeiras penetrações do “crédito social” que o governo comunista aprovou em 2014 e que está introduzindo paulatinamente.
Em seu bojo contém o mais orwelliano sistema de repressão política.
Tirou uma selfie? Um número dirá se você ou seus amigos são 'bons' ou 'ruins' para a ditadura. Crédito: Kevin Hong |
Até a pontuação dos amigos afetará aos cidadãos que lhe são próximos.
O sistema, ainda não inteiramente implantado, parece de ciência ficção.
Em março, a Comissão Nacional para Reforma e Desenvolvimento anunciou que os faltosos na administração serão punidos com a proibição de viajar em avião e em trem de alta velocidade.
Aqueles que tenham pendências na Justiça ou dívidas importantes serão atingidos. O veto durará um ano e será emendável.
Em 2017, 6,15 milhões de pessoas foram excluídas desses transportes públicos.
A jovem Pang [nome fictício por segurança] conta:
“fiquei sabendo que não poderia voar quando tentei comprar uma passagem pela internet. Apareceu uma página dizendo que estava na lista negra e que teria que procurar um transporte alternativo”, disse a “El País” de Madri.
Sua única alternativa era um trem que demora mais de 14 horas.
O mais grave é o modo como se cria a lista negra. O pai de Pang não pode pagar um crédito no banco, então a filha foi castigada, malgrado ela tenha obtido um refinanciamento do próprio banco.
A lista negra se irá sofisticando na medida em que se digitalizem ou integrem os diferentes bancos de dados pessoais já existentes.
Viajando? Um número dirá se você pode pegar o metrô, o trem ou o avião em função da fidelidade ao regime. Crédito: Kevin Hong |
As pessoas julgadas “incômodas” pelo regime terão cerceadas suas liberdades mais básicas, segundo denunciou Human Rights Watch.
Não há mecanismo de defesa para os “desqualificados” como Pang.
O Grande Irmão chinês está cada vez mais onipresente e onipotente, conclui “El País”.
O modelo é exportável como a tecnologia chinesa.
E uma nova raça de párias se espalhará pela Terra selecionada e condenada por computadores manipulados pelo Partido Comunista sob o rótulo de “crédito social”.
“16. (...) conseguiu que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, tivessem um sinal na mão direita e na fronte,
17. e que ninguém pudesse comprar ou vender, se não fosse marcado com o nome da Fera, ou o número do seu nome” (Apocalipse, 13, 16-17).
Big Brother em ação total.
ResponderExcluirOremos por nossos irmãos chineses.
ResponderExcluirMuito bom esse texto! Até a pouco tempo, eu não sabia que existia "crédito social". Acredito que outros países adotaram esse conceito/prática.
ResponderExcluir*adotarão
ExcluirVeja! É uma reportagem sobre reconhecimento facial e crédito social.
ResponderExcluirhttps://youtu.be/UgpDUnEQk8M