E se o abutre estiver onde diz não estar? |
É o caso, por exemplo, do slogan “Pátria ou abutres”, que o governo populista argentino mandou seus seguidores cantarem.
Num comício encomendado pelo governo de Cristina Kirchner e definido como “antioligárquico e anti-imperialista”, os diaristas do partido cantaram contra os “fundos abutres”.
Esta é a forma deselegante com que o governo argentino se refere aos fundos de investimentos que não aceitaram as reestruturações leoninas dos títulos da dívida pública.
Esses fundos obtiveram de tribunais internacionais o pagamento de seus títulos no valor integral de 2001, quando a Argentina deu o calote. O julgamento da Justiça desatou a cólera dos dirigentes socialo-populistas.
Os organizadores do comício contra os “abutres” também leram mensagem em que Lula declara “solidariedade” a seus amigos no conflito com os fundos, noticiou o “O Estado de S. Paulo” em 13-8-2014.
Lázaro Báez: fundos desviados dariam para pagar a dívida argentina. |
Segundo a imprensa portenha, Báez foi beneficiado por obras públicas superfaturadas, realizadas por suas empreiteiras para o governo “anti-oligárquico”.
Só com o dinheiro de Báez os lesados pelo calote “anticapitalista” obteriam de volta o dinheiro que a Argentina não lhes pagou — US$ 1,33 bilhão — e que está difícil de recuperar pelos tribunais de Nova York (“O Estado de S. Paulo”, 14-8-2014).
E se Báez fosse o único!
Seria exagerado dizer que os “abutres” verdadeiros esvoaçam em torno da Casa Rosada, ministérios, governos provinciais, prefeituras peronistas, e até os filhos da presidente Cristina Kirchner.
Eles nem se dão ao trabalho de bater asas, ficando bem instalados nos sofás das dependências públicas, sempre diante de laptops cheios de números.
Xi Jinping assina acordos em Buenos Aires O expansionismo chinês quer os imensos recursos da Patagônia e o vicepresidente argentinoo anda às voltas com a Justiça. Quem são os abutres? |
O abutre despercebido pelo populismo também devora como carniça inúmeras empresas argentinas de tamanho médio e pequeno.
Trata-se da China, que está abafando a indústria e o comercio sul-americano.
A dependência de produtos chineses dobrou em seis anos, segundo estatísticas oficiais argentinas. A China já é o segundo maior exportador para a Argentina.
Pequim entra no mercado platino com bens de capital (máquinas e equipamentos) e bens intermediários (manufaturados ou matérias-primas usados na produção de outros bens).
Contra a entrada da economia comunista chinesa não há cânticos “anti-imperialistas”. Pelo contrário, a Argentina declarou a China “aliada integral”, categoria até então só reservada ao Brasil.
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