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terça-feira, 22 de setembro de 2015

Passeata de isopor para impressionar o Ocidente

Passeata de isopor para impressionar o Ocidente
Passeata de isopor para impressionar o Ocidente



No dia 3 de setembro, a China se autocomemorou com uma impressionante encenação militar em Pequim. A coreografia, ensaiada e executada milimetricamente, foi pensada de modo cuidadoso em função do consumo ocidental.

Mas após o ballet veio a crítica, e no balanço a potência comunista não se saiu tão bem.

A festa devia glorificar o fim da II Guerra Mundial, durante a qual o governo chinês – antes da instalação do comunismo – lutou ao lado dos EUA e desempenhou importante papel.

De fato, nesse conflito, o enfrentamento Japão-China teve uma parte de enorme proporção, sendo conhecido como Segunda Guerra Sino-japonesa.

Essa guerra (1937–1945) começou antes do ataque japonês a Pearl Harbor, e só a partir de 1941 passou a ser um capítulo relevante da II Guerra Mundial.

Na verdade, o Partido Comunista chinês agiu nesse episódio do modo mais antipatriótico, e o atual festejo foi pelo menos hipócrita.

O PC estava então reduzido a uma facção rebelde sustentada pela URSS e explorou a guerra sino-japonesa para minar as bases do governo nacional chinês e expandir ativamente o território sob a sua influência.



O militarismo chinês cresce sob o olhar aprazido de seu sinistro fundador.
O militarismo chinês cresce sob o olhar aprazido de seu sinistro fundador.
O exército nacional chinês engajou 1,7 milhões de soldados, enquanto as milícias comunistas mobilizaram 70.000 homens com a estratégia de não combater e de se preparar para o day after. Só uma batalha foi travada por unidades comunistas.

Em relatório endereçado ao ditador soviético Joseph Stalin, o líder comunista Chu en-lai informou que o exército nacional sofreu um milhão de baixas contra os japoneses, entre mortos e feridos, mas que só 3% do total foram comunistas.

O patriarca do comunismo chinês, Mao Tsé Tung, chegou a agradecer “a ajuda da invasão japonesa, que tornou possível a vitória comunista”.

No fim da guerra, o governo nacional estava debilitado pelo enorme esforço de oito anos de conflito bélico e os comunistas haviam poupado seus homens com vistas a apoderar-se do país.

Nessa perspectiva, o comunismo chinês agiu mais como um usufruidor do conflito do que como um partícipe dele.

Mas agora se exibe como o grande vencedor. E não só isso. Imitando a desfaçatez de Putin na Rússia, ele se atribuiu o lindo papel de principal vitorioso, concedendo aos EUA o papel de simples acólito.

Para garantir a “festa popular patriótica”, o regime ordenou patrulhar “cada rua, cada beco”, para evitar “azares de segurança” ou que elementos hostis ao regime pudessem se reunir e/ou manifestar.

Auge de despersonalização de homens governados como bonecos.
Auge de despersonalização de homens usados como bonecos.
A fórmula já foi aplicada em outros momentos de grande movimentação, como nas Olimpíadas de 2008.

O método é próprio das ditaduras que não sentem o terreno sólido debaixo dos pés.

“Parada de Comemoração do 70º Aniversário da Vitória da Resistência Popular Chinesa contra a Agressão Japonesa e a Guerra Mundial Antifascista”: tal foi o pomposo e enviesado nome do evento.

Pequim fez desfilar 12.000 soldados e 200 aviões de guerra, exibiu mísseis atômicos intercontinentais que garante serem capazes de atingir os EUA. Esses engenhos bélicos foram apresentados como visando à paz. A paz comunista, é claro, erigida sobre os cadáveres dos outros.

O treino dos soldados pareceu mais com o de atores e atrizes de um teatro ou de um ballet. Feito num ritmo e com uma duração esgotadora, como se nunca antes tivessem tido preparação militar à altura.

O desenvolvimento comercial chinês cresce junto com o desejo de conquistar o mundo pela força assim que possível.
O desenvolvimento comercial chinês cresce junto com
o desejo de conquistar o mundo pela força assim que possível.
O povo não podia assistir aos treinos nem permanecer nos locais por onde passariam as tropas; não podia ver os armamentos e nem sequer ir à capital quem nela não morava.

Uma maciça interdição foi aplicada nas estradas, nas estações de trem, nas ruas onde se concentra o comércio.

Ficou proibido até mesmo reservar um quarto de hotel e foram cancelados os eventos artísticos.

De que valem armamentos que o regime teme que sejam vistos de perto pelos populares?

Como o regime comunista precisava de um belo céu azul no dia da parada, algo de inusitado ocorreu na hiper-poluída Pequim: mandou fechar 10.000 fábricas!

Também o trânsito foi severamente restringido, não só em Pequim, mas também nos seis Estados que rodeiam a capital!

Ninguém podia tirar fotos dos treinos ou filmá-los, e, pior ainda, postar as imagens em serviços online. Grandes redes de Internet pararam de funcionar naquele dia.

Todo e qualquer e-mail ou post relativo ao desfile devia ser previamente analisado pela censura até dois dias depois da passeata.

O governo instruiu os provedores de Internet a estimular “que todos os sites promovessem positivamente comentários luminosos”. Sofreria sérias medidas quem não agisse assim.

Qual é o apoio popular a uma ditadura que se diz ‘vitoriosa’ e que no dia de sua festa máxima precisa recorrer a medidas como essas?

O exibicionismo teve ares de efeito especial ou de videojogo mas evidenciou o agressivo expansionismo socialista.
O exibicionismo teve ares de efeito especial ou de videojogo
mas evidenciou o agressivo expansionismo socialista.
Modelos foram contratadas para aparecerem nas fotos como soldados. Os “veteranos” da vitória comemorada foram pouquíssimos, não só pela idade, mas pelo fato de os comunistas pouco terem feito pelo ‘extraordinário triunfo patriótico’.

Os soldados chineses exibiram uma inigualada despersonalização. Vendo os batalhões desfilar com a perfeição de bonequinhos, dir-se-ia assistir a cenas de efeito especial, ou a lances de videogame.

Os equipamentos bélicos apareceram pintados como brinquedos para crianças, tipicamente chineses.

A encenação visou intimidar Ocidente. E a grande questão não é saber se esses foguetes e armamentos contrafacionados podem emular os originais americanos ou japoneses equivalentes.

O que se deve temer é que o Ocidente caia nesse tipo de enganação de um gigante militar com muito plástico e isopor, é verdade, mas com uma vontade ideológica imensa de destruir os adversários e apoderar-se do mundo.


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