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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

A terrível lição da maior Reforma Agrária da História

Mulher famélica pede comida nuna imagem rotineira da China revolucionária
Mulher famélica pede comida nuna imagem rotineira da China revolucionária
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Era preciso tirar a China comunista da miséria e estagnação. E em 1957 o líder comunista Mão Tsé Tung lançou o chamado Grande Salto Adiante um inumano esforço igualitário para tirar a economia socialista daquela situação.

Foi de um desastre para outro muito pior. Mao descobriu que o país andava sobe duas pernas: a industrial e a agrícola. E excogitou o impensável: todo o sangue da agrícola devia passar para a indústria.

O método é bem conhecido no Brasil: a coletivização da terra e a organização militrarizada do campesinato em comunas, ou assentamentos. Acabou sendo o modelo inspirador da reforma agrária socialista confiscatória brasileira, das CEBS agrícolas e do MST.

A desgraça da coletivização forçada da terra, executada em aras de uma utopia igualitária, gerou a pior fome da historia da humanidade: 45 milhões de cadáveres, segundo as mais recentes estatísticas.

O Grande Salto Adiante virou o Grande Salto Mortal para dezenas de milhões de chineses que se extinguiram sem terem o que comer, bem como para centenas de milhões de outros que com dificuldades indizíveis fugiram da extinção pela carência.

Poderia ter sido o destino do Brasil, e ainda poderá sê-lo caso se apliquem as fantasias teológico-igualitárias da CNBB e de seus ativistas, pregadores e tentáculos subversivos.

Frank Dikötter é o autor do estudo mais minucioso e recente sobre aquela explosão de inumanidade. Acaba de vir a lume na Espanha seu livro “A grande fome na China de Mao. Historia da catástrofe mais devastadora de China (1958-1962)”.

Aquela espantosa extinção dos famélicos foi durante muito tempo, um secreto proibido sob o socialismo maoista.

“A China desceu ao inferno” numa tentativa enlouquecida de acelerar o crescimento
“A China desceu ao inferno” numa tentativa enlouquecida de acelerar o crescimento
Em 1988 o regime ousou dar a cifra oficial de 23 milhões de mortos de inanição e doença. “O livro negro do comunismo”, espécie de catálogo dos horrores dos regimes socialo-comunistas contabilizou um máximo de 43 milhões no período 1959-61.

David Priestland, autor de uma história condescendente do comunismo contou entre 20 e 30 milhões entre os anos 1958-61.

O trabalho de Dikötter, professor das universidades de Hong Kong e Londres, foi procurar dados nos arquivos chineses recentemente abertos e entrevistou sobreviventes.

O resultado foi estarrecedor.

Ele começa dizendo que “entre 1958 e 1962 a China desceu ao inferno”. E qualifica aquela imensa reforma agrária de “um dos maiores assassinatos de massa na história humana”.

Mão quis desenvolver rapidamente o país destruindo seu passado tradicional.

A fé cega nos dogmas materialistas ensinados pela Rússia entregou aos fanáticos – a “vanguarda do proletariado” – quanto mais iletrados melhor a execução do plano irreal.

Para granjear os elogios dos chefes, os ideólogos que dirigiam as comunidades de base falsificavam os dados, mesmo quando a realidade contradizia cruelmente todas as previsões do Líder Máximo.

As metas eram inatingíveis, sádico o poder, a corrupção caracterizava os que subiam na escala do Partido Comunista e o medo era o instrumento preferido para a tormenta infernal que aniquilou 45 milhões de chinesess.

O Grande Salto Adiante foi também o pretexto para exterminar a oposição anticomunista no país e os comunistas moderados do Partido.

Quando a decalagem da realidade com a utopia ficou ovante a máquina socialista instalou um sistema de autocríticas humilhantes, de “seminários de correção”, de expurgos sistemáticos, de culto à personalidade num país que tinha virado um imenso campo de concentração.

Então a fome foi reforçada por desapiedada perseguição política, punidora de todos aqueles que não cumpriam os objetivos impossíveis de cumprir, que fraquejaram no trabalho coletivo de sol a sol ou que eram suspeitos de falta de entusiasmo pelo Partido, pelo Líder e pelas metas do socialismo.

As fazendas coletivas, campos comunitários ou assentamentos não se distinguiam dos campos de concentração
As fazendas coletivas, campos comunitários ou assentamentos
não se distinguiam dos campos de concentração
Os piores desatinos e o auge da mortandade se deram nas zonas dirigidas pelos socialistas maoistas mais puros e radicais.

O livro “A grande fome na China de Mão” ganhou o prêmio Samuel Johnson na categoria ensaio.

Ele fala da dinâmica do poder num Estado de partido único devorado pela corrupção e pelas denúncias mútuas. Ele entrevista pessoas comuns, recolhe suas táticas de oposição e subversão larvadas, seus esforços imaginosos de sobrevivência incluindo a mentira, a ocultação, o roubo, o contrabando ou a falsificação das contabilidades.

Ele só não só fala do afundamento de um sistema econômico e social que a Teologia da Libertação e as reformas agrárias latino-americanas tentaram parodiar.

O livro pretende entender a complexidade da conduta humana nos tempos de desespero e catástrofe, comenta “El Mundo”.

Deus não o permita, mas isso pode vir a se tornar tema por demais candente na hora em que catástrofes se anunciam nos quatro quadrantes do planeta.


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