Xi pune a acumulação de capitais e quer voltar ao comunismo de Mao |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Xi Jinping decreta fim do “capitalismo” chinês
Até que Xi Jinping assumiu a chefia do socialismo chinês e decretou que a época do “capitalismo” acabou. A China, segundo ele, está grande o suficiente para acabar com EUA e voltar ao “socialismo original”.
Então viu-se que o vermelho de Evergrande superava os 3oo bilhões de dólares e só dispunha de 15 bilhões no caixa.
Compõem esse imenso buraco 150 bilhões que deve pagar a curto prazo e, obviamente, não consegue. Por isso vem incumprindo sistematicamente todos os recentes prazos. E mais recentemente deixou de cotar na Bolsa.
Inversores populares chineses rodearam as sedes de Evergrande pedindo a devolução do dinheiro ou o pagamento com apartamentos ou propriedades.
O endividamento de Evergrande (306 bilhões) equivale a todo o PIB da Africa do Sul (302 bilhões), e supera a dívida total da Rússia (257 bilhões).
Desse total, 19 bilhões correspondem à dívida offshore contraída em países ocidentais. E é a parte que tem menos possibilidades de ser devolvida. Entre os investidores nesses títulos se encontram alguns dos maiores bancos e fundos dos EUA, Japão e Europa.
Evergrande parou projetos elefantisíacos. E o governo lhe ordenou demolir dezenas de prédios ilegais |
A empresa em crise vendeu 1,5 milhões de moradias para cidadãos chineses mas ainda não as entregou. Esses cidadãos investiram na compra as poupanças de sua vida toda e pode ser que nunca as recebam.
Evergrande dá emprego direto e indireto a 4,2 milhões de pessoas.
No desespero, a empresa começou a vender propriedades com grandes descontos, mas com a queda dos preços ela se descapitaliza enormemente.
A maioria das moradias de que poderia dispor como moeda de troca não está concluída e estão em zonas de baixo valor que se esperava que se valorizariam em alguns anos.
Um quebra-cabeça que o governo-patrão não quer resolver para não contradizer a nova fase de nivelamento das riquezas dos chineses.
O governo até que não veria mal que esse símbolo caísse. O governo está indiciando as empresas “capitalistas” insustentáveis e Evergrande é uma delas.
Evergrande não está sozinha. Dezenas de outras construtoras estão em dificuldades análogas e a onda de falências já começou. Segundo a imprensa chinesa mais de 274 empresas imobiliárias, na maioria pequenas, foram à falência. O ritmo é de mais de uma quebra por dia.
Muitos bancos chineses não recuperariam o dinheiro emprestado, menos ainda os estrangeiros. Então o caso Evergrande extravasa seus próprios limites.
Por sua vez, o ditador Xi Jinping se mostra determinado a não salvar essas empresas e muito menos a mentalidade capitalista que elas alimentam. Para ele, salvá-las equivaleria a uma bofetada contra o “socialismo original” que promove.
O mulltibilionário dono de Ali Baba Jack Ma caiu em desgraça |
De momento, foi liberado. Mas, no ultimo ano, segundo Bloomberg, Alibaba perdeu 344 bilhões de dólares em valor de mercado, o maior descalabro bursátil da história, além de multas também bilionárias e suspensão de financeiras do grupo como AntGroup. A repressão de Alibaba fez prever que as empresas do gênero passarão a ser menos rentáveis.
A grande mídia ocidental elogia a economia chinesa com base nos números que fornece o governo. Segundo esse, a retomada econômica teria sido brilhante sobre tudo após a pandemia.
Ainda sob este viés, a ascensão da economia caminha a fazer da China a maior potência econômica por volta de 2028, motivando a analistas americanos a recomendar o investimento no país.
A empresa de investimentos BlackRock, por exemplo, recomenda a seus clientes a investir muito mais na China sem levar em conta que o regime está reprimindo as empresas privadas.
Wall Street continua jogando os recursos de fundos de pensão americanos em empresas chinesas.
O dr. Cheng Xiaonong, estudioso da economia chinesa radicado nos EUA, considera que o boom chinês das décadas passadas não se repetirá.
Além do boom imobiliário baseado no endividamento, o governo central acelerou com o mesmo esquema as obras de infraestrutura não essenciais.
Os governos municipais, irrigados por crédito fácil, construíram incontáveis prédios desnecessários.
A virtual falência de Evergrande é termômetro do retorno ao 'comunismo real' |
Na China ninguém pode ser proprietário de um pedaço de terra. No máximo pode comprar o direito a usar a terra durante 70 anos. Com este ingresso, os municípios obtêm uma média de quase 60% de suas entrada, mas podem chegar a mais de 140% em Zhejiang.
Agora a crise imobiliária deixa os governos locais sem ingressos no momento em que afundam sob as dívidas que o governo central não pode cobrir.
As dívidas ocultas dos governos locais atingiram mais da metade do PIB chines. 85% das grandes cidades chinesas têm dívidas maiores que seu PIB. As 10 cidades mais endividadas superavam o 500%. Guiyang bateu o recorde com um endividamento de 929%.
Por isso, a crise de Evergrande se apresenta como o primeiro sinal de algo muito maior.
É um exagero dizer que as perspectivas da China continuam sendo positivas, concluiu Cheng.
Xi Jinping não promete um melhoramento. Ele prega a “prosperidade comum” e exige das empresas que transfiram partes de seus capitais para alimentar o sistema de bolsas.
As grandes empresas chinesas estão sob vigilância e doam essas fortunas para não pagar enormes multas.
Xi atacou o sistema educacional não estatal que cria centenas de postos de trabalho e forma uma classe jovem mais instruída. Mas Xi não suporta essa educação porque contrária o ideal igualitário “original”.
Os desejos de progresso do povo contrariam a ideologia miserabilista igualitária comunista. E Xi quer impor essa última a qualquer preço.
Talvez, digo talvez, esse retorno contra produtivo, já que precisam do capitalismo para crescer e superar os EUA, não seja por ideologia, mas por estarem na iminência de uma grande crise, se o que afirma ser real. Então precisariam controlar mais a economia e a população.
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