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quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Expansionismo militar com palavras enganadoras

Exercícios militares conjuntos com a Rússia. A China incrementou muito sua despesa  militar na última década
Exercícios militares conjuntos com a Rússia.
A China incrementou muito sua despesa  militar nas últimas décadas
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Nos últimos 20 anos, a China intensificou de modo sem precedentes o desenvolvimento de seu poderio militar, escreveu “Clarín”.

Disparou as despesas militares importando equipamentos e aumentando a indústria de armamentos de alta tecnologia ainda quando os resultados por vezes apresentem carências risíveis.

Mas também modernizou suas doutrinas militares. Ficou longe da “grande guerra do povo” empregada por Mao Tsé Tung engajando milionários efetivos terrestres e monstruosas perdas humanas.

A guerra informatizada e da informação, das comunicações, sistemas de mando e controle eletrônicos lhe ficaram acessíveis por meio das fábricas de alta tecnologia que os ocidentais montaram em seu território.



O atual orçamento militar teria sido impossível nos anos de fome e miséria do Grande Salto Adiante e da Revolução Cultural.

Segundo o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI), a despesa bélica pequinesa se duplicou em termos reais desde 2008, mas se quadruplicou desde 2002 e se multiplicou por oito desde 1997.

Segundo o mesmo SIPRI os gastos em 2017 foram de 228 bilhões de dólares, ou o segundo maior orçamento militar do mundo.

China está investindo pesado na guerra cibernética, tida como a guerra do futuro
China está investindo pesado na guerra cibernética, tida como a guerra do futuro
Triplicou as mirabolantes despesas da Arábia Saudita (3º classificado) mas ficou muito atrás dos 610 bilhões dos EUA.

Com uma reserva: o orçamento militar chinês carece absolutamente de transparência, aliás como todos as coordenadas econômicas do país.

Outrora a China foi o maior importador mundial de armas, especialmente nos tempos da defunta União Soviética.

Agora se ufana em desenvolver o caça “invisível” J-10. Iniciou a construção de seu primeiro porta-aviões após restaurar um antiquado porta-aviões soviético destinado ao desmanche e recuperar sua tecnologia.

Também desenvolve técnicas de ponta para mísseis de curto, médio e longo alcance.

Nos vizinhos há mal-estar, sobre tudo por causa das disputas no Mar do Sul da China. O rival regional tradicional é o Japão com quem disputa arquipélagos inabitados.

Navio de guerra chinês quase colide com destrutor americano
Navio de guerra chinês quase colide com destrutor americano
Porém, o pior atrito é com a frota americana instalada no Pacífico, alvo de propagandas agressivas de tom "patriótico" comunista.

Pequim não esconde o desejo de desmoralizar a esmagadora superioridade militar americana.

A tensão mais aguda é com Taiwan, ou China nacionalista. Essa não aceita a autoridade de Pequim e se mantém independente desde 1949 sendo tida como “província rebelde” pelo gigante marxista.

A pergunta fundamental sempre é: qual é o alvo preferencial do enigmático desenvolvimento militar pequinês?

As linhas dos mapas pequineses sobre o Mar do Sul da China não deixam dúvidas: a potência marxista reivindica todo esse mar com suas ilhas, violando as zonas econômicas exclusivas dos vizinhos.

As ilhas Spratly e Paracelso são o exemplo mais claro de atrito com Taiwan, Vietnã, Filipinas, Malásia e Brunei.

Em 2016, o Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia se pronunciou em favor das reivindicações das Filipinas declarando carentes de base legal as pretensões chinesas.

Mas a China desconheceu a sentença do tribunal internacional e vem provocando atritos navais com as Filipinas como a invasão dos recifes de Scarborough.

China constrói bases sobre recifes de coral no Mar da China que não lhe pertencem.
China constrói bases sobre recifes de coral no Mar da China que não lhe pertencem.
Nesse Mar, a China está construindo ilhas artificiais com pistas de pouso e bases militares.

Os EUA passeiam vasos de guerra perto das ilhas e recebem provocativos sinais da marinha chinesa geradores de nervosismo.

Pequim alega que nunca procurará a hegemonia nem agirá agressivamente, que procura relações construtivas, pacíficas e benéficas. Lindas palavras em que ninguém acredita seriamente.

Alega também que não tomará a iniciativa de recorrer ao arsenal nuclear, modo de dizer que tem e que poderia usar.

A maior habilidade chinesa está nas palavras fingindo coerência e credibilidade.

O argumento que mais impressiona aos países obcecados pela economia é que o rápido crescimento chinês impulsionaria o gasto militar porque está amarrado a uma percentagem fixa do PIB.

Quando Mao lançou seu plano de industrialização “cuidou-se bem de não esclarecer a natureza essencialmente militar, que ficaria escondida e ainda é muito pouco conhecida na China”, escreveram numa obra de referência Jung Chang e Jon Halliday (“Mao”, Gallimard, Paris, 2005).

“A prioridade foi dada à indústria das armas, e todos os recursos do país deviam ser consagrados para essa realização.

O objetivo de Mao era que a China se tornasse uma superpotência para que quando ele falasse o mundo inteiro ouvisse”.

A imprevidência e o desconhecimento da meta pequinesa não só apanágio dos chineses comuns. Mas dos ocidentais, suas mais odiadas vítimas, também.


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