Lápides cristãs sendo demolidas. Foto: Bitter Winter |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O governo comunista chinês nem recorre ao pretexto da epidemia para proibir os funerais religiosos católicos.
Contudo, a questão dos mortos é muito sensível na China. Há milênios os pagãos professam um culto especial aos antepassados, escreveu Bitter Winter.
Para um chinês, sobretudo quando possui a verdadeira fé, ser sepultado com rito religioso é da máxima importância.
Mas a última vontade do defunto é desconhecida pelas autoridades, que vêm arrancando os símbolos religiosos das lápides funerárias.
Os caracteres indicando a condição sacerdotal foram removidos. Foto: Bitter Winter |
Os funcionários ameaçaram destruir todo o monumento, desmontaram uma estrutura onde se celebravam as missas no cemitério, e transformaram em banheiro público um prédio adjacente que servia de sacristia.
Os casos vêm se repetindo em todo o país. A associação ChinaAid reportou que 176 lápides encimadas com a cruz foram demolidas no condado de Xiapu, província de Fujian, em dezembro de 2019.
Ainda no dia 4 de abril deste ano, padres e fiéis da diocese de Yujiang sofreram intimidação da polícia quando foram ao túmulo de seu ex-bispo, Mons. Zeng Jingmu, para orná-lo, em rememoração do quarto aniversário de sua morte.
Em setembro de 2019, a família de um simples fiel católico morto em Leqing, província de Zhejiang, procedia à cerimônia fúnebre quando os agentes invadiram o local e fizeram arrancar os símbolos religiosos, incluindo cruzes e pinturas.
Biografia do Pe. João Wang Zhongfa foi arrancada. Foto: Bitter Winter. |
O enterro se completou com sob os olhares dos policiais atentos para que nenhum símbolo religioso aparecesse, o que fez um fiel comentar que “o regime impõe esses controles por medo de que as tradições espirituais possam afetar o pensamento das pessoas”.
Este mesmo fiel afirmou que “pelo menos cem fiéis compareceram ao funeral e é exatamente isso que o regime teme. Nossa religião prospera e muitas pessoas preferem confiar mais em Deus que no Partido Comunista”.
Em dezembro 2019, em Fuzhou, província de Jiangxi, um fiel católico de 60 anos, antes de morrer, pediu aos filhos um funeral com rito católico.
Assim que souberam da cerimônia, funcionários socialistas compareceram à casa do falecido e interditaram qualquer serviço religioso.
Um parente lembrou seus sofismas: “Eles disseram que, como o Partido Comunista nos alimenta, o funeral deve estar de acordo com suas políticas, e não com tradições religiosas”. Acrescentaram que o catolicismo é uma religião estrangeira, vinda de Roma, e que suas reuniões podem implicar oposição ao governo.
Sacristia transformada em banheiro público. Foto: Bitter Winter |
A família chantageada teve de renunciar ao funeral religioso.
Com o coração perpassado de dor, um dos filhos do falecido disse a Bitter Winter:
“Meu pai foi um católico fervoroso durante mais de 30 anos, mas, na ocasião de sua última viagem, nós não pudemos nos despedir, como ele gostaria”.
O recente Acordo de 2018 – entre a Santa Sé e a China – não mudou a atitude das autoridades do Partido Comunista Chinês em relação à Igreja Católica, conclui Bitter Winter.
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