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quarta-feira, 21 de abril de 2021

Guerra Fria chinesa prepara uma Quente?

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Enquanto um até então pouco conhecido laboratório trabalhava com o vírus Covid-19 que viraria pandemia absorvendo as atenções mundiais, a mesma China dava início a algo que poderá ser ainda pior nos próximos anos.

Os historiadores poderão chama-lo de Segunda Guerra Fria, escreveu o historiador Niall Ferguson, acadêmico do Instituto Hoover da Universidade de Stanford e autor de 15 livros, no “The New York Times”.

Essa soltou suas primeiras psico-rajadas em 2019 segundo Ferguson. Ele recusa que a nova Guerra Fria tenha começado quando Moscou enviou suas tropas em 2014 Ucrânia numa guerra aberta mal dissimulada.

O verdadeiro início da nova Guerra Fria deu-se com as sistemáticas provocações chinesas contra os EUA nos últimos anos.

E nada pode ser comparado em animosidade, universalidade e perigosidade.

Os EUA ainda podem evitar a guerra “quente”. Mas Pequim não parece hesitar: se aparecer a oportunidade, obedecerá a instrução de Mao Tsé Tung: “Nós estamos dispostos a sacrificar 300 milhões de chineses pela vitória da revolução mundial” (Jung Chang e Jon Halliday, “Mao”, Gallimard, Paris, 2005, p. 478-479).

Acadêmicos pedantes acham que a nova Guerra Fria começou com a eleição de Trump em 2016 e a política de represálias econômicas que adotou, escreve Ferguson.

Mas só em 2019 a elite política de todos os partidos americanos caiu na conta de que não era uma bandeira de Trump. E que a confrontação com a China era inevitável.

Até a senadora Elizabeth Warren, candidata presidencial democrata, começou a pedir mais severidade contra a China vermelha.

Submarinos chineses
Submarinos chineses
A opinião pública americana se inclinou nesse sentido. O reputado instituto de sondagens Pew Research Center mostrou que 47% dos americanos estava contra China em 2018 mas em 2019 passou a 60%. Hoje só 26% tem uma visão favorável do gigante vermelho.

O confronto que começou como guerra comercial se generalizou rapidamente e criou um acúmulo de conflitos.

Guerra tecnológica planetária com a empresa Huawei, extensão do Exército Vermelho, pelo domínio da rede de comunicação 5G; choque ideológico pelos abusos contra os direitos humanos de minorias étnicas e religiosas no Sinkiang; tensões pelo tipo de cambio da divisa chinesa, manipulado inescrupulosamente pelo Banco Popular de China. A lista de frentes de combate não acaba aí.

Faz parte dessa guerra o dinheiro chinês aplicado em projetos de infraestrutura e nos bolsos de políticos, até os tidos como conservadores.

A nova Guerra Fria planetária de Xi Jinping não visa logo uma revolução mundial de Kalachnikov na mão como promoviam seus históricos camaradas soviéticos.

Em verdade, a lembrança da velha guerra fria evoca experiências próximas ao fim do mundo, lembra Ferguson, como a crise dos mísseis em Cuba, em 1962, e as múltiplas guerras convencionais como no Vietnã ou no El Salvador.

Porém, a China é tão inferior aos EUA em armamento nuclear que não pensa num enfrentamento material mas planeja e inicia batalhas em outros campos sobre tudo no ciberespaço e no espaço exterior.

Mais de 700 milhões de smarphones foram comercializados com Adds espiãs
Mais de 700 milhões de smartphones foram comercializados com Adds espiãs

Na velha guerra fria, os americanos de todas as tendências acabaram discernindo o inimigo comum – os sovietes – que os atacava em muitos continentes com fachadas diversas. Então esfriaram as divisões internas e miraram em conjunto o comunismo russo, julga Ferguson.

Agora eles estão acordando diante de um novo inimigo externo que os ataca sem bombas e sem revoluções, mas com comércio, tecnologia, investimentos... visando algum dia escraviza-los!

Acresce que a percepção desse novo inimigo poderia desviar as atenções da polarização interna americana e concentrá-las contra o tipo de guerra que propõe o comunismo chinês.

Por isso, muitos em altas esferas de poder americano, assediados pelos riscos da polarização, prefeririam uma unificação interna em torno da luta contra o dragão oriental.

Então Biden não parece tão longe de Trump se impostando ante a evidencia da espionagem e da sabotagem cibernética chinesa na política, no ambiente acadêmico, no Silicon Valley. O novo presidente de signo oposto ao anterior criou novas frentes de combate para defender a segurança nacional.

Mas é preciso ficar atentos: há grande risco em supor que os EUA vão ganhar fácil a Segunda Guerra Fria. 

Em 1969, tampouco era certa a vitória contra a URSS sem um espantoso derramamento de sangue num panorama devastador de explosões nucleares. Acabou dando certo, mas o risco foi apocalíptico.

Condenados vão a campos de trabalhos forçados como a minoria étnica de uigures
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A diferença entre as duas guerras frias radica no fato de que enquanto a economia soviética era catastrófica, a chinesa desafia os EUA.

Também na esfera militar, a NATO foi criada para enfrentar o Pacto de Varsóvia e suas dezenas de milhares de tanques e milhões de soldados. Contra a China não foi feito nada de comparável.

E, se bem a China moderna nasceu e cresceu não como produto do comunismo de Mao, mas é criação de capitais ocidentais, o sonho fanático do comunismo universal não mudou no coração das fileiras do Partido Comunista Chinês.

“O objetivo de Mao era que a China se tornasse uma superpotência para que quando ele falasse o mundo inteiro ouvisse (...) ele cuidava bem de não esclarecer a natureza militar desse plano, a qual ainda é muito pouco conhecida na China” (Jung Chang e Jon Halliday, op.cit. pág. 414)

Enquanto os EUA e seus aliados econômicos ficassem fornecendo ingenuamente os capitais e a tecnologia que os dirigentes maoistas queriam, nada iria acontecer e as relações Oriente-Ocidente viveriam uma grande distensão.

Censura de pesadelo caiu sobre Honk Kong
Censura de pesadelo caiu sobre Honk Kong
Mas no dia em que a opinião pública ocidental der sinais de abrir os olhos, Pequim pode tentar o grande golpe antes que os EUA e aliados se unam para dissipar o dragão maoista que esconde as unhas.

Então, Pequim poderá querer que essa Guerra passe de Fria para Quente, antes de que os EUA abram os olhos, como abriram em Pearl Harbor.

A Fria está em andamento e a Quente não começou. Se a história ensina algo, é que as situações falsas e precárias acabam mal.

Quando essa espada de Dâmocles cairá como adaga assassina sobre o planeta? É aventurado adiantar datas, mas se cair, podemos temer que venhamos a sabê-lo tarde demais.

É hora de acordarmos antes que aconteça.



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