O combate às 'quatro pestes' ficou como ato hilariante e totalitário que contribuiu à morte de fome de milhões de chineses |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Na China, crescem as polémicas sobre as políticas do fundador do comunismo fundado por Mao Tsé tung. A mais absurda é em torno da “guerra contra os pardais” entre 1958 e 1960).
Nessa “guerra”, Mao mandou as crianças matar os pardais porque, dizia, comiam as sementes e impediam a reforma agrária atingir suas irreais metas.
E foi só um capítulo da “campanha contra as quatro pragas”: pardais, moscas, mosquitos e camundongos.
Mao convocou os 600 milhões de chineses da época de todas as idades e exaltou as “virtudes revolucionárias” das crianças que deviam levar à escola “rabos de rato”, segundo testemunhas.
O Comitê Central presidido por Mao elaborou o documento “Decisão de continuar a campanha de combate às quatro pragas” em 29 de agosto de 1958.
Nele foi ordenado como “passo importante para fortalecer a saúde das massas, proteger a força de trabalho e aumentar a eficiência das forças produtivas (...). essa campanha continuar até que todos os ratos, pardais, moscas e mosquitos sejam eliminados do país”.
Em 1957, Mao garantiu como um triunfo que o comunismo ultrapassaria a produção industrial da Grã-Bretanha em quinze anos.
E para cumprir esse objetivo em 1958 dispôs o plano econômico e social 'Grande Salto Adiante', que preconizava 'andar sobre duas pernas', quer dizer, a produção agrícola e a industrial”, explicou ao “La Nación”, o Dr. Jorge Malena, diretor da Especialização em Estudos da China na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Católica Argentina.
A 'campanha contra as quatro pestes' foi um dos maiores objetivos delirantes da História |
Os ditadores marxistas propuseram então combater os mosquitos responsáveis pela malária, os ratos que espalham a peste e as moscas que multiplicavam as doenças, entre elas a cólera e a febre tifoide.
Mao criticou os pardais que comiam sementes nos campos e mandou eliminá-los para garantir alimentos vitais para a economia nacional.
Segundo um provérbio chinês “quando um homem conta uma grande mentira, dezenas a repetem como uma grande verdade”. E a “grande mentira” de Mao foi repetida até a demência.
E aconteceu: “o grande arquiteto da nova China” ordenou o absurdo. Os cientistas elogiaram logo a “perspicácia” do líder e não ousaram contradizê-la temendo ser rotulados de “oportunistas de direita” ou “mulheres com pés pequenos”, ou aristocratas.
Em 1956, Zheng Zuoxin, o ornitólogo mais famoso do país do Instituto de Zoologia da Academia de Ciências, publicou um longo artigo no Diário do Povo glorificando a campanha de extermínio com o título “O dano dos pardais e como eliminá-lo”.
O extermínio dos pardais para acelerar a reforma agrária foi um desastre ecológico |
O Dr. Malena também disse que “o governo encorajou a população a fazer barulho com panelas, frigideiras e tambores para assustar os pardais, faze-los voar sem parar até caírem mortos de exaustão. Seus ninhos foram destruídos, os ovos quebrados e os filhotes mortos”.
O governo informou ter eliminado 1 bilhão de pardais, 1,5 bilhão de ratos, mais de 110 milhões de quilos de moscas e mais de 12 milhões de quilos de mosquitos.
Mas aos poucos os cientistas constatam que os pardais comiam outros insetos, vermes e pragas que, esses por sua vez, estavam devorando as plantações.
Na Academia de Ciências, o Dr. Zhu Xi, primeiro diretor do Instituto de Biologia Experimental, afirmou que os pardais eram úteis no combate às pragas e ervas daninhas.
Seu comentário, porém, contradize o “pai do comunismo” e lhe custou a vida, sendo executado pelos guardas vermelhos.
Sem seu predador natural, na primavera de 1959, as pragas se espalharam por todo o país e gafanhotos, vermes e outros insetos provocaram perdas enormes nas colheitas.
A população morria de fome em meio às campanhas ideológicas |
Mao encerrou a batalha em 1960 e o extermínio dos pardais foi substituído pelo dos percevejos.
O governo comunista teve que importar cerca de 250.000 pardais da União Soviética na tentativa de restaurar o equilíbrio ecológico. Mas, ainda hoje, na China há menos do que deveria haver.
O sucessor de Mao, Deng Xiaoping (1978-1989), considerou que “Mao estava três quartos certo e um quarto errado. Mas sua contribuição foi primordial e seus erros secundários”.
Mao, que certamente se achava mais sábio que Xi Jinping, defendia “usar as ciências naturais para compreender, superar e mudar a natureza”.
Mas um outro antigo provérbio chinês foi evocado: “Um pássaro não canta porque tem a resposta para alguma coisa, ele canta porque tem um canto”.
O desastre foi um dos muitos estragos a aves, vegetais e jazidas de minérios provocados pelo pai do comunismo chinês.
Ele, entretanto, continua sendo louvado pela seita vede ecologista como fautor de um regime ideal para defender a natureza.
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