A revista quinzenal
“Caijing” (
finanças em
chinês) representou uma tentativa pioneira de jornalismo independente na China. Porém, as pressões do governo forçaram a demissão de 68 funcionários e a fundadora e diretora de redação, Hu Shuli, abandonará a publicação.
A crise foi desencadeada aproveitando a precariedade do estatuto jurídico das empresas público-privadas no país.
A diretora aprovou reportagens investigativas que apresentando a realidade prejudicavam a imagem da ditadura socialista.
Ela, então, foi pressionada a desistir dessa linha e convidada a “produzir material jornalístico simpático a anunciantes”, entre os quais as empresas com participação estatal têm destacada parte.
Com o fim de
“Caijing” livre encerrar-se-ia uma exceção. A de uma publicação sem censura. No resto do país, a impressa executa a vontade dos ministérios e a censura do Partido Comunista reina nas redações.
Entre seus “crimes” anti-socialistas,
“Caijing” revelou que a epidemia da Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) também penetrara na China e denunciou a precariedade de centenas de prédios escolares que desabaram no terremoto de Sichuan em 2008 (foto ao lado).
Para se fazer uma idéia da importância que o regime concede a esse “crime”, o dissidente Huang Qi que denunciou a má administração das escolas afetadas pelo terremoto, foi condenado por “posse ilegal de segredos de Estado” pelo tribunal do distrito de Wuhou, Chengdu. Semelhante “
crime” espantosamente impreciso é invocado regularmente pelo regime comunista para afogar toda oposição e encarcerar os dissidentes.
Em 11 anos de vida, a revista não chegou a ser fechada nem a diretora Hu presa devido a que Wang Boming, diretor da empresa que publica a revista, é filho de um figurão do Partido Comunista.
As publicações e jornalistas que desafiaram a linha oficial, entretanto, tiveram uma sorte bem diversa e muito triste.
A revista teve uma circulação de 250 mil exemplares. É lida pela elite econômica chinesa, e era a mais lucrativa do país.
Seus jornalistas não podiam receber propinas ‒ prática generalizada nos jornais estatais e praticada abertamente no transcurso de entrevistas coletivas.
Maio de 2008: "Caijing" publica foto de cemitério de crianças mortas no terremoto e enterradas só com um numero.
“Caijing” empregava 300 funcionários e reproduzia iniciativas da revista britânica
“The Economist”, lançando ao fim de cada ano uma edição especial com perspectivas para o ano seguinte. Organizava conferências pelo mundo.
O desvirtuamento de
“Caijing” acompanha uma forte tendência de re-estatização na China, análoga ao rampante estatismo na América Latina, liderado por Hugo Chávez, Cristina Kirchner e Lula da Silva.
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