'Assassinos do povo' é o brado de todas as tendências |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: Nicarágua: calvário de um povo entregue ao comunismo
“Democracia” que enforca a liberdade
Os ex-presidentes que compõem a Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas (IDEA) denunciaram “agravadas perseguições à liberdade de religião”, manifestaram-se preocupados com “o incêndio de igrejas e a destruição selvagem de imagens do culto católico”, além de exigir a intervenção do Papa Francisco, aliás muito criticado por sua inexplicável inércia, que mais parece cumplicidade (cfr. Clarín).
O jornal espanhol El País apontou um despótico tripé legislativo do governo para afogar a liberdade de expressão.
Uma Lei contra Discurso de Ódio pune os opositores com prisão perpetua. Outra Lei, a de Agentes Estrangeiros, proíbe doações internacionais a sociedades civis, ONGs, jornalistas e grupos opositores.
Eleições falsificadas não foram reconhecidas internacionalmente |
Em novembro de 2021 — prendendo candidatos opositores e enchendo as cadeias de inimigos políticos —, Ortega se fez eleger presidente mais uma vez, e se arvorou em campeão da democracia.
A comunidade nacional e a internacional viram a escandalosa farsa; os EUA, a União Europeia, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e dezenas de países democráticos recusaram o resultado.
Os ditadores de Cuba e da Venezuela participaram da posse do ditador, à qual China, Rússia, Coreia do Norte, México e Argentina fizeram-se representar e Irã enviou um chefe terrorista.
A posse preludiou a prisão de jornalistas, a fuga de empresas de comunicação e o encarceramento de familiares de exilados políticos que criticavam a tirania. 317 pessoas foram declaradas apátridas, tiveram seus registros civis apagados e seus bens confiscados.
“É a morte civil, como se a gente nunca tivesse existido”, deplorou o jornalista Héctor Mairena, refugiado na Costa Rica.
Segundo a instituição Transparência Internacional, a Nicarágua, irmanada ao lulo-chavismo, tornou-se o país mais corrompido da América Central e o terceiro mais corrupto de toda a América.
Papa rompe mutismo incompreensível
Os padecimentos de Nicarágua encontraram um Papa e o PT insensíveis |
“Não tenho escolha a não ser pensar em um desequilíbrio na pessoa que lidera [Ortega]. [...] É como se estivesse trazendo a ditadura comunista de 1917 ou a hitlerista de 1935. São ditaduras grosseiras”, registrou a Folha de S. Paulo.
Ortega treplicou com gestos brutais, mas não mudou e reforçou as violências na Semana Santa.
No Domingo de Ramos, em San José de Cusmapa, oeste do país, fiéis se revoltaram após a polícia prender o Pe. Donaciano Alarcón quando este saiu da igreja para benzer os ramos.
Ainda revestido dos paramentos da missa, foi expulso pela fronteira com a Costa Rica, acusado de organizar procissões e sublevar a população.
Segundo ele, informantes presentes em todas as missas denunciaram sua menção ao Papa Francisco e ao bispo de Matagalpa, Mons. Rolando Álvarez, que continua preso por alegada “traição à pátria”, crime usado contra qualquer opositor, acrescentou a Folha de S. Paulo.
Pouco depois, o ditador fechou três universidades católicas que contavam com pelo menos onze unidades de ensino, e dissolveu as organizações caritativas católicas ligadas à Caritas, informou o site Vatican News 18 e O Globo.19
Poucas semanas antes, o ditador havia esbravejado:
“Se vamos falar de democracia, que se eleja também o papa por voto direto do povo. Que seja o povo quem decida, não a máfia que está organizada no Vaticano”.
Grosserias que poderiam ter sido recebidas com aplausos nas assembleias do famigerado Sínodo Alemão.
O silêncio cúmplice do PT
PT apoia o regime criminoso e antidemocrático de Ortega |
O jornalista Mairena pede mais ação do Brasil: “Lamentamos que o governo do presidente Lula não tenha tomado uma atitude firme”.
No Brasil, entre outros, Celso Rocha de Barros, autor de “PT uma história”, partilhou a perplexidade da omissão petista diante do regime de crimes ao afirmar no artigo:
“PT faria bem em adotar uma postura abertamente crítica à ditadura de Ortega”, Folha de S. Paulo20:
“A revolução nicaraguense de 1979 foi a revolução da geração em que o PT foi fundado. Nos anos 1980, o PT mandou médicos para a Nicarágua [...].
“Jovens petistas se tornaram voluntários para ajudar os sandinistas, tinham várias semelhanças de família com o PT, como a forte presença de católicos progressistas em seu meio.
“Na Nicarágua, houve padres-guerrilheiros [...]. Enquanto isso, o petista Frei Beto tentava aproximar católicos e comunistas em Cuba”.