Há duas décadas, Lula estendeu o abraço a Pequim, que prometeu muito dinheiro |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Ao cobiçar a América Latina para seu comércio, a China seduz os governos esquerdistas para manter o velho sistema comunista. No momento, a Nicarágua é um paradigma.
Pelo menos desde o ano 2000 a China tenta sujeitar a América Latina multiplicando mais de 20 vezes o seu comércio com a vasta e estratégica região.
Simultaneamente forja um vínculo estratégico com os governos que adotam o “comunismo rosa”, uma mera reciclagem do velho comunismo.
Lula e Chávez criaram em 2011 a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) para afastar os EUA e o Canadá do convívio com os países latino-americanos.
E no 1º Fórum China-CELAC, realizado em Pequim, o ditador maoísta Xi Jinping prometeu investir 250 bilhões de dólares ao longo de uma década.
Em troca, os países presentes omitiriam qualquer menção às violações dos direitos humanos e da democracia, observou El País, falando do nascimento de uma ‘chino-américa’.
Neste ano de 2023, o ministro da economia da Argentina, Sergio Massa, comemorou em Pequim os suspeitos empréstimos recebidos dos chineses, dizendo: “Nós deveríamos nos chamar Argenchina”.2
Pequim comprou parte da dívida externa da Costa Rica e instalou o Instituto Confúcio, fechado nos EUA por espionagem e proselitismo marxista.
Fez um estádio de mais de 100 milhões de dólares — jamais sonhado pela Costa Rica —, mas só depois de o país romper seus laços diplomáticos com Taiwan...
‘Chino-américa’
'Nós deveríamos nos chamar Argenchina', disse o ministro de Economia argentino e candidato presidencial, Sergio Massa, vendendo seu país |
Nesse mesmo ano, Pequim fechou 20 acordos com a Argentina em troca da cessão, durante 50 anos, de um território alheio à soberania argentina onde funciona hoje uma estação espacial que segundo o consenso tem uso militar e na qual os argentinos não podem entrar.
A China promete colossais investimentos enriquecedores mas na realidade submete e afunda as economias que “beneficia”.
Exemplo típico é o Brasil que, segundo recente estudo da FIESP, numa década perdeu o 11% de suas exportações à América do Sul (R$ 52 bilhões), arrebatadas por produtos chineses, aliás baratinhos e de má qualidade como sempre.
A Universidade Cornell mostrou que a América Latina fornece apoio à política exterior chinesa nas Nações Unidas.
Acontece que, para Pequim, Colombo não descobriu a América em 1492, mas sim Zheng He, um almirante chinês muçulmano eunuco, em 1421. Agora a China procura reparação por essa “ignorância” histórica (cfr. El Mundo).
Canal chinês para superar o do Panamá?
A China tenta realizar o projeto faraônico de um canal transoceânico através da Nicarágua que supere o canal do Panamá.
O Grande Canal da Nicarágua, ou Lago Cocibolca, prenuncia um outro canal que cortaria pelo meio a região amazônica e tornaria a China uma virtual dominadora da região a pretexto de estender a Nova Rota da Seda (em inglês: Belt and Road Initiative), projeto trilionário que realiza o sonho de Mao Tsé-tung da hegemonia mundial chinesa.
O projeto do Canal da Nicarágua é elucidativo. O lago homônimo contém a maior massa de água doce da América Central e ficaria nas mãos de um consórcio chinês que o transformaria em um canal para cargueiros de grande calado.
Plano chinês do Canal de Nicarágua revoltou a população que viu entrada do comunismo |
Segundo Ortega, passariam navios tão grandes “que não poderão fazê-lo pelo canal de Panamá”.
O chinês Wang Jing — que a imprensa nicaraguense, quando havia liberdade, chamava de “o fantasma” — recebeu a concessão da obra durante 100 anos.
A largura do canal seria de 230-520 metros e a profundidade variaria entre 27,6 e 30 metros ao longo de 105 quilômetros do lago.
A profundidade média de 14 metros exigiria remover 310 milhões de metros cúbicos de rocha e outros 65 de lodo, quando o Canal do Panamá movimentou apenas 41 milhões.
Jaime Incer Barquero, presidente da Fundação Nicaraguense para o Desenvolvimento Sustentável, estimou que requereria uma dragagem gigantesca, sendo “difícil pensar em qualquer tipo de vida de água doce que possa sobreviver nessas condições”.
A grande maioria dos camponeses e pescadores vizinhos do futuro canal foi contra o projeto.
“Quando os chineses vierem, vamos recebê-los com facões. Eles estão começando a expropriar propriedades. Eles oferecem um preço catastrófico. Não sai nada na imprensa porque está comprada”.
Até o ex-padre, ex-guerrilheiro e ex-ministro da Cultura sandinista Ernesto Cardenal criticou: “Querem roubar o país”.
Os protestos foram reprimidos com violência inaudita, matando entre 325 e 560 populares, deixando centenas de desaparecidos, milhares de feridos e dezenas de milhares de exilados.
A pena máxima na Nicarágua é de 30 anos, mas os líderes camponeses foram condenados a mais de 200 anos de prisão, segundo a BBC News.
Em 2018, o projeto inicial foi declarado oficialmente cancelado. Mas a atual onda do “comunismo rosa” está fazendo uma nova tentativa.